João Paulo Sampaio destacou que Leila Pereira cobrou diretamente CBF e Conmebol por punições ao caso de racismo na Libertadores Sub-20
Luighi, do Palmeiras, chora ao sofrer racismo na Conmebol Libertadores Sub-20 — Foto: Reprodução
João Paulo Sampaio, responsável pelo setor de base do Palmeiras, comentou sobre o episódio de racismo sofrido por Luighi, atacante da equipe sub-20, durante a partida contra o Cerro Porteño, válida pela Libertadores Sub-20, na última quinta-feira.
Coordenador da formação de jovens atletas, João reforçou que o clube não vai se calar diante do ocorrido e afirmou que a identificação do agressor já foi feita. No entanto, ele ressaltou que as dificuldades para uma punição imediata esbarram na legislação paraguaia, que não trata racismo como crime.
– Primeiro a gente acolheu para que ele se acalmasse. Claro, a gente começou a reivindicar também com a própria polícia e com o terceiro árbitro, mas o próprio banco do Cerro estava indo contra, querendo que mirasse para o jogo e tentando entender que aquilo era normal. E que é normal no país, eles acham que é uma provocação. Na lei de 27/11 do ano passado, de 2024, o presidente Santiago Penha ele fala só em prevenir, aqui não é crime, não tem sanção dura, principalmente em ser um crime como é no Brasil.
– Se a gente abandona o campo ou se a gente retira a equipe, podia acontecer a mesma coisa que aconteceu com o Tabata, contra a mesma equipe, no mesmo país, e o Tabata que foi punido. E o mais importante, eles não vão vencer. Eles não serão mais fortes que nós. A gente ia perder a oportunidade porque com certeza se acontece isso a transmissão, que é da Conmebol, não ia ter a oportunidade de ouvir Luighi e foi devido a essa fala, a essa emoção que isso reverberou no mundo todo. Não pode ser comum. Essa pessoa já foi identificada, vamos ver, mas no país não é crime, então a gente tem que esperar – disse João.
O dirigente também revelou que o caso praticamente não repercutiu em território paraguaio, o que, para ele, reflete a ausência de punições previstas em lei para atos racistas no país.
– A gente não viu ainda nenhum veículo, nem comentários no hotel ou no país sobre o assunto. Como eu disse, procurei me informar se era uma lei ou um crime. Eu sei que tem uma fala do presidente falando em prevenir, em tentar inserir, principalmente a pessoa de cor diferente, de raça, na sociedade paraguaia, mas só em prevenir. Não se fala em nenhuma sanção forte ou em crime como é no Brasil, então aqui hoje não teve nenhuma repercussão pelos meios, a não ser a carta da Comebol respondendo no próprio site.
Além disso, João Paulo contou que a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, entrou em contato diretamente com os presidentes da CBF e da Conmebol para exigir respostas e punições firmes pelo ocorrido. Segundo ele, até a Fifa foi acionada para acompanhar de perto a situação.
– Nossa presidente ontem ligou para o presidente da CBF, ligou para o presidente da Conmebol, ela ficou muito revoltada ontem. Qualquer tipo de discriminação, independente do racismo, ela é muito ruim. A presidente, por ser mulher, ela já passa por isso também em algumas situações, eu já passei por isso. Quando eu cheguei em São Paulo, sou nordestino e tive aquele primeiro olhar de diferença. Será que ele vai conseguir aqui? O que aconteceu com o Vini quando ele chegou também lá. Só que você vai ganhando prestígio na área profissional e sua voz vai tendo mais força para você conseguir combater qualquer tipo de discriminação.
– Ligaram para os pais de Luigi, para o pai e para a mãe. A mãe estava bem chocada, chorando, mas falaram com os pais de Luigi, mas estão cobrando tanto da Conmebol como da CBF a punição ou a atitude mais firme. Mas isso ontem à noite, a diretoria toda do Palmeiras foi bem presente para que a gente primeiro acolhesse o atleta e a família dele, mas depois cobrasse as autoridades responsáveis – disse João Paulo.
O coordenador da base também descartou a ideia de retirar o Palmeiras da competição. Pelo contrário, ele disse que o grupo ganhou ainda mais motivação para buscar o título como forma de resposta dentro de campo ao ato racista.
– Fiquem com a certeza de que isso nos deu mais força na oração deles ontem. Isso é o que eu falei, eles não vencerão, os racistas não vencerão, porque do outro lado tem pessoas que irão ser resistentes e mais fortes do que eles. E os meninos ontem, foi emocionar a oração, a gente agora vai com tudo. Já estamos classificados para semifinal e com mais força para ir em busca desse título para o Palmeiras e para o Brasil. Mas, acima de tudo, esperando que tenha uma punição severa aos culpados – disse.
Entenda o caso
Luighi, atacante do Palmeiras, sofreu uma injúria racial vinda de um torcedor do Cerro Porteño durante o confronto entre as equipes na Libertadores Sub-20, no Paraguai. O Palmeiras venceu por 3 a 0, mas o episódio marcou a partida.
O torcedor imitou um macaco em direção ao jogador, que saiu de campo chorando e desabafou durante entrevista após o jogo, ao ser perguntado sobre a partida. Ele ainda relatou ter sido cuspido ao deixar o gramado.
– Não, não. É sério isso? Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso? Me fala, até quando? O que fizeram comigo é crime, não vai perguntar sobre isso?
– Vai me perguntar sobre o jogo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? Ou a CBF, sei lá. Você não ia perguntar sobre isso né? Não ia. É um crime o que ocorreu hoje. Isso aqui é formação, estamos aqui para aprender – disse Luighi.
O Palmeiras publicou uma nota oficial declarando total apoio ao atleta e prometendo levar o caso até as últimas instâncias para garantir que o responsável seja punido. Clubes como Corinthians e São Paulo também manifestaram solidariedade a Luighi.
A Conmebol divulgou comunicado oficial repudiando o ato e prometeu aplicar medidas disciplinares. Na sexta-feira, Vini Jr., jogador do Real Madrid, também saiu em defesa de Luighi e cobrou respostas firmes das entidades esportivas.
Fonte: Jogo de Hoje 360